Passageiro do tempo – Enquanto nos tivermos um ao outro

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As sociedades atuais não se preparam nem sabem envelhecer, a educação é orientada para o sucesso e não para a realidade, a vida não é feita só de sucessos, infelizmente, é uma corrida de obstáculos, alguns evitáveis, outros transponíveis e muitos insuperáveis.

As religiões preparam-nos para esta realidade menos simpática, mas como a religiosidade e até a espiritualidade são pilares em queda, o mundo vive na ilusão de que tudo é sucesso, bem-estar, juventude eterna. É certo que a Covid veio despertar-nos para a realidade, mas, para muitos, isto é apenas um hiato e tudo voltará rapidamente à normalidade.

Interessa-me, sobretudo, sensibilizar para o que a pandemia veio pôr a nu, como vivem os velhos os últimos anos das suas vidas. E, estou certo, ninguém gostou do que viu. O desaparecimento das famílias alargadas e os novos modos de vida tornaram quase regra institucionalizar os velhos, cujos filhos não podem ou não os querem cuidar. O lar passou a ser a solução ideal. Não esquecer que éramos e continuamos a ser uma sociedade de pobres. O que a Covid veio fazer foi tornar visível esse universo medonho que se esconde por detrás de algumas das “modernas” ERPI. A estratégia institucionalizadora foi levada ao extremo e quase se esqueceram ou desvalorizaram as soluções de envelhecer em casa, com apoios apropriados.

Somos um país onde a profissão de cuidador profissional nem sequer existe

As soluções SAD (Home care) não são estimuladas e são tão complexas de montar, sujeitas a regras tão obsoletas, a princípios tão fora da sociedade atual, que só políticas descontextualizadas podem justificar. A lei é absurda e devia ser substituída de imediato.

Uma última nota solidária para quem trabalha nas ERPI onde o salário mínimo é a regra, as condições de exploração muitas vezes inaceitáveis e a formação muito incipiente. Afinal somos um país onde a profissão de cuidador profissional nem sequer existe.

José Manuel Silva

Professor/gestor do ensino superior

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